segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Gemütlichkeit

Entre as várias palavras adotadas no inglês, por não terem equivalente, está "Gemütlichkeit".

Trata-se de um dos componentes da índole germânica.

Mesmo em português não há uma palavra que exprima exatamente o sentido.

Significa o sentir-se bem (sózinho ou em companhia) subjetivamente, com reforço de ambiente agradável, e também calorosa companhia. Outrossim, é uma amigável, aconchegante atmosfera pessoal e de ambiente, no qual a gente se sente bem. Sem conflitos e preocupações (que devem ser deixados da porta para fora).

Entre outras características alemãs, estão o associativismo e ênfase na educação, no ensino.

Uma das diferenças marcantes entre a imigração alemã nos Estados Unidos e no Brasil, é a influência das políticas públicas em relação ao ensino. Tanto lá como aqui, os imigrantes não esperaram pelos governos, e criaram ecolas mantidas pelas comunidades, vinculadas às respectivas denominações religiosas.

Nos Estados Unidos, a lingua alemã foi muito utilizada uma vez que o número de imigrantes era alto. Tanto o clima como a já existência de colonizações há mais tempo, influiram em atrair maior contingente de europeus.

Comparando a relação entre quantidade de descendentes como percentual da população, e percentual dos que ainda falam alemão, verifica-se que nos Estados Unidos a assimilação, com adoção de somente o ingles, foi muito mais rápida, do que no Brasil em relação ao português.

Penso que um dos fatores é o de que alemão e inglês sejam ambas linguas germânicas, proporcionando maior facilidade de aprendizado. Mas, talvez tenha pesado mais a diferença que houve nas políticas públicas em relação às escolas das comunidades dos imigrantes.

Até a primeira guerra mundial, houve pouca diferença nos dois países, Estados Unidos e Brasil.
Tanto lá quanto aqui, aproveitavam-se recursos didáticos habituais na Alemanha.

A primeira guerra mundial, teve efeitos inibidores, tanto lá quanto aqui.

Bom exemplo de como evoluiu a questão no Brasil, é o caso do Colégio Bom Jesus, em Curitiba.

Claro que havia diferenças entre os colégios urbanos em relação às escolas em áreas rurais.
(Cabe lembrar aqui, que muitos dos municípios que hoje constam com os mais altos índices de alfabetização são daqueles cujas comunidades de colonizadores mantinham escolas alemãs).

A diferenciação maior, quanto ao destino destas escolas nos Estados Unidos em relação ao Brasil, surge com a "nacionalização" em 1938, decretada pelo govêrno brasileiro.

Nos Estados Unidos também se obrigava o ensino do ingles, mas continuava sendo um modelo que agregava valores, valorizando o ser bilingue, e a bagagem cultural dos imigrantes.

Já no Brasil, a política foi a de suprimir valores, proibindo o alemão (e outras linguas estrangeiras), como se fossem valores excludentes. Pretendia-se forçar (ao contrário de estimular como nos Estados Unidos) a adoção da lingua portuguesa e demais componentes culturais brasileiros, mediante a substituição destas escolas particulares por escolas públicas.

Esta substituição, conforme as propagandas políticas da época, teria ocorrido.
Mas se foi mesmo, foi só no papel, nos decretos. Na prática, nem havia condições de substituir, por exemplo, professores demitidos, e prover material didático novo no mesmo ritmo das "canetadas".

Alem dos decretos federais, havia os estaduais. Serve o exemplo do Paraná, acima citado, e há menção sobre o que ocorreu em Santa Catarina, neste trabalho sobre as escolas na região do Contestado.

Tenho como exemplo o caso de meu pai. Ele foi professor bi-lingue.

A escola para formação de professores na qual concluiu seu curso em 1937, a Escola Normal Católica em Novo Hamburgo, RS que era mantida pelo "Volksverein" (Sociedade União Popular), foi sumariamente fechada em 1939. O prédio, bem mais tarde foi aproveitado para a Escola Técnica Alberto Pasqualini.

A escola na qual meu pai lecionava, lá no meio do mato, não recebeu verbas.

E, meu pai ao se aposentar (como titular de cartório em SC) nos anos 80, descobriu que havia sido "transferido" naquela época para uma escola no outro extremo do Estado. Como brasileiro nato, e com a formação de professor, estava qualificado a lecionar. Esta transferência, da qual nem havia tomado conhecimento em tempo hábil, seria certamente para forçar um afastamento (que de qualquer maneira ocorreu, porque não tinha como se manter apenas recebendo produtos dos colonos).

Mas o mais significativo é que esta escola para a qual meu pai havia sido transferido, e na qual ainda estaria "lotado" nos anos 80, nunca existiu de fato. Apenas em registros burocráticos.(E o pai ainda teve que ir atrás para provar que não lecionou lá!)

Esta nacionalização do ensino, pode ter apressado o "abrasileiramento", mas sem dúvida, trouxe consideráveis prejuizos sociais e culturais.

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