sexta-feira, 19 de março de 2010

Alemães gauchos

Folclore e tradições alemãs, assim como italianas, polonesas e das demais etnias de imigrantes -no caso dos estados do Sul do Brasil e naqueles que recebem sulistas - tendem a ser substituídos pelo “gauchismo”. Chimarrão, churrasco, e CTG’s são cada vez mais comuns também entre descendentes de alemães.

O movimento gaucho também mudou de feição. Incorpora muito das tradições alemães, italianas, seja na música quanto na gastronomia.

Esta fusão formou uma nova identidade, que tende a ser prevalecente. Mais do que se identificar como descendente de alemães, a ênfase recai em ser gaucho.

Esta evolução do gauchismo é bem ilustrada por esta notícia, de 1998 (link). E a mesma veiculada em Niterói RJ (o que por si só já é significativo). Refere-se a CTG em Itapiranga, de colonização alemã, e menciona a “patroa” Noeli Heberle Bortoluzzi, sobrenomes alemão e italiano.

Parece contraditória a adesão de alemães ao Movimento de Tradições Gaúchas, se vinculado à causa farroupilha. Pois os líderes da colonização alemã eram contrários ao separatismo. Mas, é bem compreensível num contexto mais amplo, e pela própria evolução do MTG.

Numa reflexão rápida, consideremos o seguinte:

1 – O Rio Grande do Sul foi o último estado a integrar-se ao Brasil. Alemães tiveram contribuição decisiva na ocupação territorial, formação e defesa das fronteiras no sul do Brasil.

Sem as imigrações, a língua oficial no sul do país seria o espanhol.

Já antes da imigração (a partir de 1824, no RS), em 1774 o general Joachim Heinrich Böhm colocou em fuga os espanhóis, tornando o Rio Grande do Sul definitivamente brasileiro.Alemães tiveram importantes participações na Guerra Cisplatina (1825-1828); na guerra conta a Argentina (1851-1852), e na Guerra do Paraguai(1864/5-1870).

2 – Talvez os descendentes de alemães de hoje se considerem meramente descendentes “destes alemães imigrantes”, sem maiores vínculos com a Alemanha atual.Devemos lembrar que os imigrantes chegaram aqui antes da unificação alemã de 1871. A rigor, nem eram alemães no sentido de hoje.

Consideremos também, que por “jus solis” os descendentes são brasileiros, e que o “jus sanguinis” é desconsiderado para sua cidadania (não há como pleitear cidadania alemã, no geral). E, “estes alemães”, referindo-nos aos imigrantes que se radicaram no Rio Grande do Sul, se tornaram também gaúchos (gentílico), cujos descendentes se espalham pelo país.

Neste quadro, a meu ver, fica mais fácil compreender a identificação de descendentes de alemães com o gauchismo.

Atualizando (2013): Muito interessante o teor de palestra com dados esclarecedores com base em pesquisas do jornalista Sylvio Rockenbach em relação à participação de teuto-brasileiros no MTG (link).

Complemento, em reforço às considerações acima:

Em 22 de junho de 1767 Johann Heinrich Böhm foi nomeado pelo rei de Portugal, comandante de todas as tropas do Brasil, e incumbido da reforma prussiana do exército. Transformou os contingentes de tropas dispersos pelas diversas regiões do país em um exército coeso e homogênio. Daí o epiteto de "fundador do exército brasileiro"

Os espanhóis insistiam na defesa dos territórios que lhes caberiam pelo Tratado de Tordesilhas. Fazia mais de 13 anos que o Rio Grande do Sul estava ocupado pelo governador espanhol de Buenos Aires. Em 1774 o general Johann Heinrich Böhm conseguiu derrotá-los, consolidando as fronteiras do sul. O Rio Grande do Sul tornou-se definitivamente brasileiro. (Lembrando que a colonização alemã ali se iniciou só em 1824).

Por isto também é considerado "Libertador do Rio Grande do Sul"

Leia continuação sobre alemães gauchos.
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