domingo, 18 de setembro de 2011

Dialetos - 2

Será que há vantagem em ter um dialeto como idioma materno?

Já sentiu inibição ou constrangimento por ter algum sotaque,
porque em casa falam algum dialeto?

1 - Emigrantes dos vários “Estados” que vieram a integrar o Império Alemão a partir de 1871 levaram cada qual seu modo de falar, numa grande diversidade de dialetos, às várias regiões do mundo nas quais buscaram novas oportunidades. Alem destes, falantes de alemão de outros países.

Da mesma forma, ao Brasil. Aqui, viviam praticamente isolados. E os contatos entre os imigrantes das várias regiões de procedência ensejaram a formação de um novo dialeto com predominância do Hunsrickisch, que a maioria falava. Mais tarde, também foram incorporadas e adaptadas palavras do português, e cada vez mais.

A referência é ao surgimento do “Riograndenser Hunsrickisch” que abrange o maior grupo entre os falantes de dialetos alemães no Brasil.

2 - Sobre efeitos da convivência dos vários grupos de imigrantes, ainda que fossem todos de fala alemã, já foi comentado em “3 – Evolução de interações culturais” na postagem Alemães Gaúchos -2. Como efeito destes contatos e com base nesta nova maneira mesclada de falar e hábitos germânicos mantidos e outros adquiridos por força do meio em que agora viviam - e o fato da ausência de contatos mais significativos com o que viria a ser a Alemanha – surgiu uma nova identidade.

Criou-se uma identidade própria de “Deitsche” em solo brasileiro (distintos dos “Deutschländer” ou alemães vindos mais recentemente). Significativa considerando-se que de início, nem cidadania brasileira tinham.

3 – O grupo dos descendentes destes primeiros imigrantes cresceu geração após geração. E as famílias eram numerosas. À medida que passaram a faltar terras nas antigas colônias, passaram a migrar. Inclusive um considerável número para a Província de Misiones, na Argentina.

Já o linguajar próprio e seus usos e costumes, ao longo dos anos passaram a uma regressão em termos relativos. Isto à medida que muitos daqueles das novas gerações, migravam a outras ou novas colonizações com pluralidade de etnias. A língua em comum nestes casos passou a ser o português. E casamentos entre etnias diferentes, mais comuns. Some-se a isto a crescente urbanização e êxodo rural.

Alem destes fatores gradativos, houve grande impacto inibidor também com as duas guerras mundiais, especialmente a segunda. A política de nacionalização decretada em 1938 foi fortemente negativa.

Neste contexto, pela urbanização ou pela opressão, muitos casais mesmo ambos sendo descendentes de alemães, passaram a negligenciar o uso do dialeto no convívio familiar. Muitos foram influenciados por comentários depreciativos que taxavam o dialeto de algo atrasado.

O abandono do dialeto quando seria viável sua preservação, na realidade é uma perda, para indivíduos e a sociedade.

4Mas qual seria a vantagem para crianças cultivarem algum dialeto?

Interessante resposta está neste artigo da Deutsche Welle, (em portugues)

Quem fala dialeto fala melhor”.

Destaco algumas conclusões de especialistas:

[...]O presidente da Associação Alemã de Filólogos, Heinz-Peter Meininger, justifica este fenômeno da seguinte maneira: "Os falantes de dialetos aprendem bem cedo a diferenciar diversos níveis lingüísticos. Isso treina a capacidade de apreensão e o pensamento abstrato."
Na visão de Josef Kraus, presidente da Associação Alemã de Professores, os falantes de dialetos tendem a ter melhor desempenho em língua alemã e matemática por causa de sua boa compreensão analítica. [...]

Pesquisas neurológicas recentes também revelam que o centro de competência lingüística no cérebro é mais desenvolvido em crianças que dominam diversas línguas. E o dialeto é um pressuposto ideal para qualquer criança desenvolver sua capacidade de articulação verbal.[...]

5 – Esta conciencia de valores em relação ao que para muitos parece ser algo arcaico,
em preservar dialetos, está levando a uma lenta revalorização.

Vários pequenos municípios – tais como São João do Oeste que já mencionei em outra oportunidade - nos quais há predominância de descendentes de alemães, estimulam a preservação do dialeto e outras tradições.

Isto facilita que em paralelo haja exito no ensino do alemão clássico e ingles, desde a tenra infancia.

Sem dúvida, uma vantagem no futuro destes brasileiros!
.

2 comentários:

  1. Concordo em parte,mas o que se chama de dialeto precisa é ser resgatado e ensinado como segunda língua oficial de cada município de imigrantes que a falam e não ser tratada como mera versão rural do Hoch Deutsch. Que se aprenda este último , sim , mas que jamais se o trate como superior à regional germânica materna ( que ,no caso,seria o Hunsrükisch para uma grande maioria de imigrantes "alemães " no Brasil,talvez até
    tenhamos outras ...).

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  2. Entendo que nenhum modo de falar é em si superior ou inferior a outros. Mas há idiomas que são mais universais, que mais pessoas entendem, há mais publicações, fontes para pesquisas e informações etc. Asim, pela funcionalidade procuramos aprender o alemão, tal como o ingles. Dialetos tem maior apelo emotivo.

    Em relação à existencia de mais de uma lingua
    oficial, como acontece em vários paises e regiões, é mais uma questão de isonomia entre grupos populacionais do que propriamente de status dos idiomas.

    Agradeço pelo comentário!

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